REFORMA VÊ ‘MERCADO DE VOTOS’ NO CONGRESSO
A proposta de reforma política encaminhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos ministros Tarso Genro (Justiça) e José Múcio (Relações Institucionais) faz referência a “mercado de votos” e pede mudança. A informação é da “Folha de S. Paulo”, apurada por Andréa Michael –a mesma apanhada por grampos da Polícia Federal, autorizada pela Justiça, no caso Daniel Dantas.
Segundo Michael, o governo quer acabar com a prática de liberação de recursos e nomeação para cargos públicos sempre que precisa do Congresso.
As propostas seriam negociadas com o Congresso pelo ministro Múcio.
AS PROPOSTAS
O texto a que a jornalista teve acesso propõe:
:: Lista fechada e divulgada para as candidaturas (a idéia é que o leitor vote em proposta, não em pessoas);
:: Financiamento puramente público de campanhas (apenas pessoa física poderia doar, não jurídica);
:: Mandato do partido em vez de restrito ao candidato, conforme decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas com prazo limite para mudança de partido;
:: Vedação de coligações em eleições proporcionais;
:: Horário político limitado ao tempo disponível para partido que dispuser de maior espaço para propaganda.
MEMÓRIA
Em maio de 1997, deputados federais, segundo afirmou a “Folha” à época, venderam seu voto a favor da emenda constitucional que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) por R$ 200 mil cada um. Outros, ainda segundo a “Folha de S. Paulo”, receberam concessões de rádio e de TV em troca do voto.
No governo de José Sarney, a prática também teria ocorrido para que fosse aprovada a proposta que lhe garantiria cinco anos de mandato. O então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, distribuiu 958 concessões de rádio e TV a políticos aliados.
Mais recentemente, a mesma troca de favores teria ocorrido, mas com quantias menores, que chegariam, segundo Roberto Jefferson (PTB-RJ), a R$ 30 mil. O caso marcou o governo Lula, em que, supostas mesadas –conhecidas como mensalão–, eram pagas a deputados em troca também de apoio.
Em todos os governos, a liberação de verbas federais para emendas de congressistas aliados –e até de oposição– também foi utilizada para obter apoio no Congresso.